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25 de Abril de 2024

Terceirização: causas e consequências

há 9 anos

No Brasil, temos o hábito de atacar as consequências, não as causas dos problemas. Criamos o Bolsa-Família para combater a miséria, mas não garantimos educação básica de qualidade a todos. Para impedir que a indústria nacional seja esmagada, taxamos as importações, ao invés de baratearmos os nossos produtos. Para combater a inflação, o governo represa tarifas públicas, em lugar de acabar de desindexar nossa economia.

Com a terceirização não é diferente. O objetivo é gerar ganhos de eficiência que reduzam custos de produção. Isto é possível porque a nova empresa, aquela que se dedica exclusivamente ao serviço terceirizado, torna-se mais eficiente e pode atender novos clientes com funcionários que antes ficavam parcialmente ociosos. Especialização e escala geram eficiência e desenvolvimento.

Por exemplo, as agências de publicidade, que já existem há mais de um século no Brasil, são frutos da terceirização. Antes de serem criadas, cada empresa que quisesse anunciar tinha que criar, produzir e planejar a mídia com sua própria equipe. Poucos podiam ter profissionais dedicados à função, o resultado era amador.

No Brasil, os críticos da terceirização alegam que ela fragilizará os trabalhadores, colocando em risco seus direitos trabalhistas. Temem que ela crie uma subclasse de trabalhadores com menos direitos que os demais. Acreditam que com a terceirização de atividades fins, recentemente aprovada pela Câmara dos Deputados, as empresas criadas serão menores e mais frágeis. Se passarem por dificuldades financeiras, os direitos dos trabalhadores estarão em risco. Apesar da preocupação não ser de todo descabida, ela é míope.

De fato, inicialmente, novas empresas menores serão criadas. Ao longo do tempo, porém, elas poderão atender novos clientes, crescer e gerar um volume de negócios maior, pagando a seus funcionários mais do que recebiam antes, como aconteceu no caso citado das agências de publicidade.

Além disso, já existem duas classes de trabalhadores no Brasil, uma com todos os direitos trabalhistas, outra sem nenhum direito. Hoje, o grupo dos trabalhadores informais representa quase metade da mão de obra ativa. Até poucos anos atrás, era mais da metade. Com a recessão desde o ano passado, mais trabalhadores estão perdendo o emprego e parte deles indo para a informalidade. Com a terceirização também de atividades fins as empresas podem reduzir seus custos, e assim demitirão menos funcionários.

Outro fator é o que no jargão empresarial é chamado de passivo trabalhista. Em uma tentativa de fazer justiça social, não raro a Justiça do Trabalho ignora a lei e julga segundo a força financeira das partes. Mesmo que a empresa tenha cumprido suas obrigações legais, os juízes dão ganho de causa ao trabalhador por acreditarem que a empresa tem condições financeiras de pagar. Ao transferirem este risco para a nova empresa terceirizada, as empresas reduzem seus custos, e o custo dos seus produtos. Isso é bom não só para o trabalhador que não perde o emprego, mas para todos os consumidores brasileiros.

E por que, no Brasil, a informalidade no mercado de trabalho é tão grande, tornando a terceirização mais importante? Porque impostos e direitos trabalhistas maiores geram custos maiores para empregadores e empregados. Para cada R$ 1,00 que o trabalhador formal recebe, o patrão paga R$ 2,00. Isto leva muitas empresas e empregados a optarem pela informalidade, reduzindo o que o patrão paga e, ao mesmo tempo, aumentando o que o funcionário ganha. Se você pudesse optar entre férias remuneradas, adicional de férias, 13º salário, FGTS, multa rescisória, etc. E em troca ganhasse o dobro a partir de amanhã, o que preferiria? Parte dos trabalhadores informais faz exatamente esta escolha.

Fonte: http://www.jurisite.com.br/noticias_juridicas/

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/terceirizacao-causas-e-consequencias/190556072

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Sr. André
Trabalho atualmente como autônomo, tenho 60 anos, não aposentado. Já trabalhei como terceirizado, mas minha demanda é quanto a direitos trabalhistas ligados a aposentadoria especial. Fui funcionário público concursado, pedi exoneração para trabalhar na IBM Brasil. funcionário CLT. Antes de ser contratado, portanto ainda funcionário público, fazia estágio informal, sem vinculo CLT, sem remuneração, mas registrado na IBM e com crachá de identificação magnético que me abria as portas do CPD. Trabalho noturno, insalubre (barulho e frio intenso), carregando peso (caixas de formulário continuo e discos). Fui contratado em janeiro de 1985 com contrato temporário de um ano, sendo desligado em 31 de dezembro. Logo depois, em janeiro de 1986, fui contratado por uma indústria fazendo o mesmo trabalho, sob as mesmas condições, onde fiquei por 9 anos, quando a empresa faliu e mais 3 anos na massa falida. A profissão de Operador de computador nunca foi regulamentada por lei, e nós, os operadores éramos sujeitos a regras sindicais da indústria. Nenhuma das duas empresas fornecia EPI. Depois de promovido, recebi o cargo de Analista de Suporte, mas a empresa foi multada, pois esse cargo era exclusivo do CRA, pelo menos foi o que nos disseram. Na minha carteira de trabalho não há registro de desconto ou vinculo para o CRA. Pergunto se tenho direito a aposentadoria especial pelo tempo de operador de computador. Como provar que tenho sequelas devido as condições insalubres, em uma empresa falida, encerrada e na IBM, pelo tempo de estágio?
Muito grato pela atenção
Fernando Gyrão de Castro continuar lendo

Sobre a terceirização, sou a favor, mas com contrato regulamentado e exigência de comprovação de capacidade técnica para o exercício das tarefas dos profissionais terceirizados, pela empresa de terceirização. No Brasil, essas empresas contratam pessoal sem nenhum preparo, com o aval da Justiça Trabalhista, que dá ganho de causa, como o senhor falou a parte mais rica, na maioria das vezes. Ou ganho de causa para uns poucos que tem dinheiro para pagar bons advogados. Não conheço a nova lei de terceirização, mas creio se bem elaborada, juntamente com a nova legislação e regulamentação trabalhista (que não conheço tampouco). Não bastam diplomas da faculdade para se exercer qualquer profissão, mas comprovação de horas de trabalho. Cito o caso da Petrobras, onde passei num concurso e não fui convocado. Foi em 2012, ano em que a Petrobras tinha mais de 80% de pessoal terceirizado e as empresas de terceirização eram de propriedade de funcionarios e parentes de funcionarios. Do Diretor de RH (que foi afastado) até gerentes e supervisores. Nenhuma palavra sobre esse escândalo na imprensa. Desculpe-me usar o espaço oferecido por esse site, mas creio que o aprimoramento de leis necessita do envolvimento, como opiniões até divergentes, numa discussão saudável, de pessoas que se sentem prejudicadas com as próprias leis. Muito grato continuar lendo